ATA DA SEPTUAGÉSIMA NONA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATURA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA EM 08-8-1989.

 


Aos oito dias do mês de agosto de mil novecentos e oitenta e nove, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Septuagésima Nona Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou fossem distribuídos em avulsos cópias da Atas da Septuagésima Sétima e da Septuagésima Oitava Sessão Ordinária, e da Vigésima Segunda Sessão Solene, as quais foram aprovadas. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Airton Ferronato, 05 Pedidos de Providências; e 01 Pedido de Informações; pelo Ver. Cyro Martini, 06 Pedidos de Providências; pelo Ver. Declamar Machado, 01 Pedido de Providência; pelo Ver. Edi Morelli, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Ervino Besson, 07 Pedidos de Providências; 02 Indicações; e 03 Pedidos de Informações; pelo Ver. Flávio Koutzzi, 01 Projet de Lei do Legislativo nº 115/89 (Proc. 2158/89); pelo Ver. Isaac Ainhorn, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver. João Dib, 03 Pedidos de Providências; e 01 Pedido de Informações; pela Verª Letícia Arruda, 03 Pedidos de Providências; pelo Ver. Luiz Machado, 05 Pedidos de Providências; e 01 Emenda ao Projeto de Lei do Legislativo nº 55/89 (Proc. 1394/89); pelo Ver. Mano José, 01 Pedido de Providências; 01 Pedido de Informações; e 01 Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 19/89 (Proc. 2094/89). Ainda foram apregoados: 01 Projeto de Lei do Executivo nº 31/89 (Proc. 2191) e 01 Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 03/89 (Proc. 2192/89. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 029/89), do Sr. Presidente do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense; 146/89, do Sr. Presidente do Sport Club Internacional; 166/89, do Sr. Juiz de Menores, Renato Cramer Peixoto; 225, 226, e 228/89 , do Governo do Estado do RGS; s/nº; do Sr. Sub-Chefe da Casa Civil do Governo do Estado; Circulares nºs 01/89, da Vice-Presidente da Federação Nacional das APAES-RS; 556/89, do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Juiz de Fora – MG; e s/nº, do DIEESE, e do Sr. Prefeito Municipal de Vitória – ES. A seguir, constata a existência de “quorum”, foi aprovado Requerimento de Licença para tratar de interesse particulares, para o período de três dias, a contar do dia oito do corrente, do Ver. Vicente Dutra. Em prosseguimento, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Aranha Filho e, informado que S. Exª já prestara compromisso legal na Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Justiça e Redação. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Nelson Castan apelou à Bancada do PT na Casa, no sentido de sensibilizar o Executivo Municipal em relação a diversos problemas que afligem a Cidade, principalmente, quanto a possibilidade de diversificação do vale-transporte, conforme sua utilização em ônibus da Carris ou de outras empresas do setor. Disse que, se aprovado tal diferenciação no vale-transporte, tanto a população quanto a Carris serão prejudicadas. Propugnou a utilização de fichas que possam ser utilizadas em todas as empresas do transporte coletivo da Capital. Lamentou, ainda, o Veto do Sr. Prefeito Municipal, ao Projeto de sua autoria, que concedia a isenção de pagamento de tarifa, no transporte coletivo urbano, aos excepcionais. O Ver. Elói Guimarães leu nota do Executivo Municipal, publicada no Jornal Zero Hora, através da qual a atual Administração esclarece a população quanto a venda de vale-transporte pela Prefeitura. Disse que tais explicações carecem de fundamento, criticando o PT no que tange à intervenção praticada nas empresas de transporte coletivo da Cidade. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Wilson Santos, referindo legislação municipal que regulamenta o vale-transporte, e citando nota do Executivo, publicada no Jornal Zero Hora, acerca da venda dos mesmos pela Prefeitura, afirmou que a Administração está descumprindo a norma que regula a questão, bem como interferindo na comercialização dos vales. Informou, ainda, que o PL já editou programa de Governo de seu candidato à Presidência da República, Guilherme Afif Domingos, salientando que esse é o primeiro presidenciável a protocolar e entregar no Congresso a sua plataforma governamental. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Gert Schinke manifestou a sua preocupação em relação às proporções que, entende, a questão tarifária do transporte urbano vem assumindo nos debates desta Casa. Disse ter propostas de desenvolvimento de novas tecnologias, como alternativas para a área do transporte coletivo e individual urbano, já adotadas em outros países, nas quais seriam: a utilização do gás natural em ônibus, os ônibus elétricos e as ciclovias, que garantiriam a diminuição dos custos e da poluição ambiental. Informou ter iniciado contatos, com vistas à formação de uma Comissão interdisciplinar para tratar das alternativas para a área em questão. Lembrou, ainda, Sessão Solene a ser realizada na próxima quinta-feira, coma finalidade de registrar a data de lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, e que contará com a presença de diversas autoridades. O Ver. José Valdir protestou contra o que chamou de boicote aos Parlamentares do seu Partido, pelos proprietários de empresas jornalísticas que, em represália à atuação daqueles nas discussões da Constituição Estadual, têm censurado as manifestações dos políticos do PT. Relatou a forma como essa censura vem sendo feita, nos mais diversos veículos de divulgação, dizendo que tal procedimento ocorre, também, a nível nacional, e que esses fatos demonstram a sonegação do direto de informação do povo e da liberdade dos profissionais da área. Leu manifesto dos Sindicatos dos Jornalistas acerca do assunto. O Ver. João Dib comentou notícias, em diversos jornais da Capital hoje publicadas, acerca da divulgação, pelo Executivo de um plano semestral para sua Administração. Discorreu sobre informe de Prefeitura, acerca da renovação da frota do serviço do transporte coletivo, dos valores da respectiva tarifa, contestando os dados ali contidos. Referiu-se, ainda, ao custo da nota publicada ontem, pelo Executivo Municipal, no Jornal Zero Hora, sobre esclarecimentos a respeito do vale-transporte. O Ver. Décio Schauren reportou-se sobre o pronunciamento do Ver. João Dib, acerca de publicação do Executivo em jornal da Capital, esclarecendo a necessidade de divulgação daquela nota, tendo em vista o procedimento da ATP em relação ao vale-transporte. Comentou a eleições para escolhas das chefias, no DMAE, afim de que, apesar das críticas formuladas por um grupo de funcionários, a grande maioria deles é favorável ao pleito em questão. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Vieira da Cunha, disse que após quase trinta anos, o povo brasileiro terá o direito de escolher o seu Presidente da República. Afirmou que a importância histórica da data justifica a abertura de espaços para a publicidade da campanha. Sugeriu ao Líder do PT na Casa, Ver. Flávio Koutzzi, que mantivesse contato com o Secretário da SMT, para confirmação da existência da Portaria, expedida por aquele Titular, proibindo a colocação de películas com propaganda nos vidros dos táxis e, em caso positivo, se essa proibição atingiria a propaganda eleitoral. O Ver. Omar Ferri, divergindo da apreciação feita pelo Ver. Flávio Koutzzi, acerca da divulgação de literatura anti-semita, que vem sendo discutida nesta Casa, disse que “o nazi-facismo”, as mentalidades retrógradas, atávicas, brutais, e medievais obscurantistas, são condenáveis, mas que o direito de editar o livro que quiser, deve ser cedido a quem o tem constitucionalmente”. O Ver. Flávio Koutzzi, reportando-se ao pronunciamento do Ver. Omar Ferri, disse que sua apreciação da referida literatura, reflete uma repetição de outros tantos protestos. Disse considerar oportuna a intervenção de S. Exª, porque a mesma coloca uma questão pertinentes aos valores democráticos. Afirmou que sua proposta não é a de eliminação de livros, e sim, a de gerar uma questão política no âmbito da Câmara Municipal e da Cidade, considerando que se trata de uma literatura sem nenhum critério científico em termos de pesquisas e de imprecisões absolutas no terreno histórico. O Ver. Luiz Braz, solidarizou-se com o pronunciamento do Ver. Omar Ferri, em defesa da liberdade de imprensa e, discorrendo sobre obras publicadas pela Editora do Sr. Elwagner Castan, afirmou que tal Editora não congrega somente autores de literatura anti-semista, citando o nome de Gustavo Barroso, autor do livro “Brasil Colônia de Banqueiros”, literatura que recomendou a todos. O Ver. Airton Ferronato falou acerca da iniciativa dos moradores do Quarto Distrito, os quais reivindicam um estudo relativo à implementação de uma elevada para a Av. Farrapos com a Av. Sertório, dizendo, ainda, que a Zona Norte carece de uma praça ou parque. Comentou notícia vinculada ao Jornal Correio do Povo, de hoje, acerca da conclusão, pela METROPLAN, em quarenta dias, de estudos visando a diminuição do tráfego de ônibus no corredor da Av. Assis Brasil, analisando a situação em que se encontra aquela Avenida. Disse estar apresentando Projeto de Lei que visa incentivar a utilização das atividades referentes à guarda comunitária afirmando que a insegurança da coletividade é fato fundamental para tanto. Durante a Sessão, o Sr. Presidente registrou a presença em Plenário, do ex-Vereador Rubem Tomé. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos às dezesseis horas e três minutos, convidando os Srs. Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às dezessete horas de hoje. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga e Lauro Hagemann, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Wilton Araújo. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Sobre a mesa um pedido de Licença para Tratar de Interesses Particulares do Ver. Vicente Dutra, por três dias, com parecer favorável.

 

(Obs.: Foi aprovado o Requerimento de Licença do Ver. Vicente Dutra e dada posse ao Suplente, conforme consta na Ata.)

 

Passamos ao período de

 

COMUNICAÇÕES

 

Com a palavra, o Ver. Nelson Castan, pelo tempo que lhe cede o Ver. Ervino Besson.

 

O SR. NELSON CASTAN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, muitas vezes paramos para refletir e num esforço assim de solidariedade buscar pontos positivos em que pudéssemos de alguma forma apoiar a atual Administração Municipal e esforçarmo-nos um pouco no sentido de reduzir os atritos, considerar um pouco mais benevolentes certas situações, me parece que quanto mais se reza, mais assombração aparece. O sentido da minha colocação, da tribuna, hoje, é mais na direção de fazer um apelo para que a Bancada do PT nesta Casa ajude a sensibilizar o Executivo no sentido de evitar certas atitudes que são flagrantemente contrárias ao interesse da população da nossa Cidade. Estou me referindo ao problema da reedição do vale-transporte que já havia sido tentada há dois meses atrás a venda do vale-transporte pela Prefeitura e, naquela ocasião, por decisão de liminar a Prefeitura foi impedida de vender o vale-transporte e depois esboçou nova tentativa, tentando vender somente para uso nas empresas sob intervenção e na Carris. O que é importante salientar, o que é importante deixar bem claro é que, à parte as discussões, a diferença entre a Prefeitura Municipal e a ATP é nítida. É evidente que a criação, na Cidade de Porto Alegre, de duas ou mais fichas de vale-transporte representa um prejuízo muito grande para a população usuária e para as empresas que compram o vale-transporte, por força de Lei para entregarem aos seus funcionários. É evidente que tendo somente um vale-transporte possível de ser usado em todas as empresas, em todas as linhas, em todas as linhas que servem a nossa Cidade, existindo somente um local de vendas em que todas as fichas estão disponíveis, isso representa um conforto, uma comodidade para o usuário. Porque muitas vezes além do seu itinerário normal de ida e volta para o trabalho, o empregado usa a ficha do vale-transporte para outros deslocamentos que não aquele seu de rotina.

Então, a criação de 2, 3, 4 vales-transporte é uma inconveniência para o usuário. Aquela idéia que nós estamos amadurecendo há muito tempo é de que a diferença de posição da Administração Popular com qualquer segmento da sociedade, no caso as diferenças com a ATP, elas são legítimas, agora, elas nunca podem transbordar no sentido de acabar prejudicando a população como um todo. É essa sensibilidade que nós acreditamos deva ser um atributo permanente do administrador público, porque as brigas, as diferenças com esse ou aquele segmento são normais no curso de uma administração. Agora, o que não pode, o que é contrário aos interesses da população é quando essas diferenças acabam por prejudicar toda a população que não tem nada a ver com essas questões.

Então, agora, a ultima notícia que se lê nos jornais é que a Carris iria vender o seu vale-transporte e isoladamente. Então fica aqui uma sugestão à Bancada do PT, que leve isso ao Presidente da Carris, e que leve isso ao Sr. Prefeito Municipal, que se isso ocorrer a maior prejudicada será a própria Companhia Porto- Alegrense, porque ela irá perder uma quantidade muito grande de passageiros, porque devido à comodidade muita gente irá optar e terá então que comprar a ficha do vale em todas as empresas menos na Carris. Por exemplo, os passageiros que pegam os ônibus no corredor da Av. Protásio Alves certamente irão comprar fichas das empresas particulares porque a quantidade de oferta de viagens, somando as empresas em conjunto é bem maior do que a Carris, isoladamente.

Então, por uma questão de conforto e disponibilidade de horário, os passageiros irão naturalmente, digamos, pelo menor sacrifício, pelo menor incômodo, irão comprar fichas da ATP, prejudicando a Companhia Carris Porto-Alegrense. Nesse caso, se a idéia for levada adiante, se esta idéia prosperar, além dos passageiros que usam as várias linhas da Cidade, terá um segundo prejudicado que serão as finanças da Companhia Carris Porto-Alegrense, e aí eu acho que não há interesse da atual Administração em prejudicar a empresa estatal do Município, o que contraria toda a sua pregação teórica e ideológica, seria uma incoerência neste sentido..

Outro aspecto que eu queria registrar, aqui, com grande pesar é o veto do Sr. Prefeito Municipal ao Projeto de nossa autoria, e aprovado por esta Casa que transforma em Lei um convênio de tarifa gratuita de passagem de ônibus aos excepcionais ligados à APAE e aos menores carentes ligados à FEBEM e ao MAPA. Foram inúmeros os argumentos usados, desta tribuna, por este Vereador e por outros, mostrando, evidenciando que isso não iria acarretar ônus adicional ao sistema de transporte em Porto Alegre, uma vez que este benefício, há mais de quatro anos, já está embutido na tarifa única vigente em Porto Alegre. Isso representaria uma segurança para o público alvo que nós buscamos contemplar através da iniciativa do Projeto de Lei e que, portanto, ficamos sem entender o porquê do Veto do Sr. Prefeito.

Então, aquela vontade que nós tínhamos, que eu falei no início, de começar a ver a Administração Popular, e acreditem os companheiros do PT, isto é sincero o que estou dizendo, com olhos mais benevolentes, com manifestação e apoio em algum outro aspecto, nós nos vemos desanimados para reorientar a nossa caminhada neste sentido exatamente por atitudes como esta a que eu estou me referindo, aqui, da tribuna, que, no meu entender, são absolutamente gratuitas, desprovidas de fundamentação técnica, desprovidas de embasamento. Eu só posso pensar que é uma simples atitude de natureza político-partidária. Como o Projeto de Lei veio de um Vereador oposicionista desta Casa, o Sr. Prefeito Municipal, por este motivo, vetou. Eu me recuso a pensar nisso, mas não vejo outra razão. Então, fica aqui esta mensagem, este apelo aos Vereadores do PT para que reflitam em cima deste assunto. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a palavra, o Ver. Elói Guimarães.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Nós, pelo tempo, e aqui esteve o Ver. Castan na tribuna, temos uma certa intimidade com a questão relacionada com o transporte coletivo. E toda a vez, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que fatos, manifestações e atos se dão nesta área nós nos vemos convocados a alguma análise da tribuna. E nota de esclarecimento sobre a venda do vale-transporte da Administração Popular é algo que grita pela falta de substância e de fundamentação. Vejam o que diz a nota e aí coloca algo que causa estranheza, se não espécie: “É a preocupação da Prefeitura com os prejuízos das empresas”. Então é uma contradição em que a Administração Popular incorre e que precisa, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ser urgentemente corrigida. Eu tenho dito e reiterado a minha análise acerca da intervenção. A intervenção no transporte coletivo de Porto Alegre. O PT se comprometeu num discurso que não tinha maiores fundamentações nesse aspecto. Bem, em chegando ao Governo, ele precisava dar um choque de opinião pública e o fez, fazendo a intervenção, quando a mesma, sob certo aspecto, deveria ser mais bem examinada. Quando é que se dá a intervenção, Sr. Presidente e Srs. Vereadores? Dá-se quando os empresários solicitam reajuste tarifário e o PT, para demonstrar que é diferente dos terrenos, pois assim fez, segura, mete a mão na trava e aí, diante de uma certa precipitação, não sei, talvez de parte dos proprietários se dá à intervenção. É aquilo que nós chamamos de intervenção provocada. Provoca-se uma situação para, em cima dela, agir. Parece-me que é assim que se dá.

Mas, eu acho, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que o PT nesta questão dos transportes tem que melhor reexaminar o assunto, porque a questão que interessa para a população, vejam bem, é o produto final. Está é a questão que diz com os interesses da população. Estão recebendo um transporte em condições e com tarifa compatível? É isso que interessa à população. A questão ideológica, a questão até filosófica de se ter em mãos do poder público ou não, a gerência, é uma questão que não tem o interesse imediato, do ponto de vista da população. Mas a nota da Administração Popular, e eu vou pelo que ela representa, diz assim: “Ao desrespeitar estas normas, a ATP estimula a especulação e possibilita a circulação de fichas adquiridas por um valor inferior ao da tarifa vigente”. Então, a Administração Popular está preocupada com os empresários que vendem por um preço menor. É o que se deduz. “Também incentiva a fraude ao fisco, pois as empresas adquirentes podem abater no Imposto de renda os gastos com vale-transporte. O procedimento da ATP, ao não adotar a substituição das fichas, a cada mudança de tarifa, além destes transtornos, também causa incalculáveis prejuízos às empresas”.

Então, a Administração Popular está preocupada com as empresas. É uma formulação estranha, não corresponde àquela linha de conduta política que tinha antes das eleições, quando dizia que os empresários, através da tarifa, enriqueciam ilicitamente, quando se sabe que condenamos na política tarifária do PT não e ó fato de terem aumentado a tarifa, embora, Ver. Vieira da Cunha, a Administração tenha se comprometido em fazer uma política tarifária, dizendo, inclusive, que rebaixariam o preço da tarifa. Por isso os reajuste tarifários fizeram o PT engolir, boca a baixo, o seu discurso, os fatos, independentemente da análise que se possa fazer, fizeram com que o PT engolisse, ou jogasse no lixo o seu discurso. Então, aqui se coloca uma preocupação que me parece desnecessária, da Administração Popular, com os empresários. Eles, e não faz muito tempo, eram acusados de, ilicitamente, receber um preço pelo transporte incompatível. Então, fica, aqui, a nossa estranheza a essa preocupação. Mas, vejam bem, que vendem os vales–transporte pelos preços estabelecidos, e quem responde por isso são as empresas, são os empresários dos transportes coletivos. Agora, o que não pode fazer a Administração, e o fez por equívoco, e a emenda ficou pior que o soneto foi vender o vale-transporte por uma tarifa que ainda vai acontecer, isso é lesão, pois se apropria de um valor que não está autorizado a cobrar, e quem compra o vale é para utilizar, vai pagar um valor que não corresponde. Mas estas preocupações colocadas aqui, dizem bem, retratam bem que a Administração Popular, Ver. Schauren, precisa se ajudar, ela já está deixando a sua soberba, porque quando chegaram lá na Prefeitura foi com muita soberba, a estatização, aquelas questões todas, e lembro dos debates que fazíamos pelos bairros, onde o PT nos exigia a estatização nuca tiveram oportunidade tão rica – em confrontação – para estatizar, como agora. E não estatiza. Por que não estatiza - o PT - o transporte coletivo na Cidade? É uma tese que foi abandonada. Não era uma tese do PDT. O PDT nunca sustentou a estatização. Setores, do PDT – e este Vereador consta do discurso de posse – lá na Secretaria Municipal dos Transportes, sustentaram a estatização do transporte coletivo. Está lá, no dia da posse. Mas não era da orientação do Governo, do grande Governo de Porto Alegre Alceu Collares, estatizar o transporte coletivo. Já o PT fez sua bandeira. Embandeirou-se dessa tese.

 

O Sr. Décio Schauren: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Elói Guimarães, em primeiro lugar, a Administração Popular não abandonou a luta pela estatização do transporte coletivo e nem abandonou a luta pelo direito de vender as fichas de vale-transporte porque, claramente, na semana passada, a ATP prejudicou não aos empresários, prejudicou o sistema de transporte coletivo de Porto Alegre, quando ela vende pelo preço velho, 6 milhões de fichas, se é que a Zero Hora está dizendo a verdade. Então, isto, na verdade, não é a preocupação com o empresário, é a preocupação com o sistema, porque cada vez vai ter menos ônibus dentro do sistema. Faltam, aproximadamente, 500 ônibus, hoje, em Porto Alegre. Quer dizer, isto é um prejuízo, no mínimo em médio prazo para o usuário do ônibus.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Eu tranqüilizo V. Exª, com a antecipação da receita a gerência do vale-transporte, no caso a ATP, tem lucro, Vereador. Exatamente essas diferenças se equivalem porque eles têm lucro. Veja que nós vivemos uma inflação e a ATP tem uma antecipação de receita que compensa a infra-estrutura e exatamente esta diferença de valores tarifários. Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Liderança com o PL, Ver. Wilson Santos.

 

O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Partido Liberal que entrar no debate que se iniciou com o Ver. Nelson Castan e que prosseguiu com o Ver. Elói Guimarães e diz o seguinte: o vale-transporte, ele tem a sua Lei fundamentada, a Lei nº 7418/85, de 16 de dezembro de 1985 e um Decreto regulamentado nº 92180, de 19 de dezembro de 1985.

Nós sabemos que na essência política do vale-transporte, foi criado para beneficiar os trabalhadores com o objetivo de diminuir o custo dos transportes coletivos, o qual é indispensável para o deslocamento do trabalhador de sua residência ao seu local de trabalho ou vice-versa. Hoje, nós vemos o Executivo Municipal não cumprindo mais uma Lei e um Decreto cuja Lei e o Decreto já mencionei.

O Executivo Municipal de Porto Alegre além de não conceder aos funcionários municipais o vale-transporte, contrariando o que diz o art. 3º, alínea a, da Lei nº 7418/85 e os arts. 7º e 8º do Decreto-Lei nº 9218/85, principalmente o art. 7º, o qual passamos a descrever: “É vedado ao empregador ou pessoa jurídica de direito público substituir o vale-transporte por antecipação em dinheiro ou qualquer outra forma de pagamento.”

Aqui eu chamo a atenção de que eu já havia trazido anteriormente alguns exemplos de contra-cheques de funcionários onde o Executivo estava pagando em dinheiro o vale-transporte, o que é uma afronta violenta, é uma colisão, é um rasgar de lei, porque eu tenho procurado apontar a legislação e acho que deve pautar a conduta nossa como fiscalizadores e o Governo como executor das leis. O que faz o Prefeito? Além de não atender ao que determina a Legislação do vale-transporte em relação ao funcionário do Município vem interferir na comercialização do vale-transporte de maneira totalmente contraditória ao que determina o Decreto nº 92180/85, que regulamenta a Lei e institui o vale-transporte.

Veja, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Prefeito Olívio Dutra, além de não cumprir esta obrigação ao que concerne ao vale-transporte para o funcionário do Executivo, chama a si a responsabilidade de comercializar o vale-transporte das empresas de transporte coletivo que estão sob intervenção e aqui desrespeita o que determina o art. 7º do Decreto 92180/85, que diz: a empresa operadora do sistema coletivo público fica obrigada a emitir e comercializar o vale-transporte ao preço vigente, colocar à disposição dos empregadores em geral e assumindo os custos dessa obrigação sem repassá-los para a tarifa dos serviços. Além disso, o Prefeito iniciou a comercialização do vale-transporte uma semana antes de aumentar a tarifa de 36 para 45, já com o valor de 45 que passa a vigorar a partir do dia 06 do corrente mês. Como eu disse, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a nossa intervenção é como fiscalizador das ações do Executivo e como um defensor que propugna pela observância das leis, que eu acho que é o mínimo que nós podemos fazer para que possamos trilhar uma senda correta.

E quero aproveitar o final do meu tempo de Liderança para dizer que o Partido Liberal já editou uma plataforma de governo, o programa de governo do nosso candidato Guilherme Afif Domingos. Realmente é o primeiro presidenciável que protocolou e entregou no congresso com discurso o nosso programa de governo que não é só a beleza da encadernação, realmente tem conteúdo e nós estamos aí para colaborar neste processo democrático, entregando à população do Brasil, ao povo, à Nação a esse contingente enorme do eleitorado um candidato com qualidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Retomamos o período de Comunicações. Com a palavra, o Ver. Gert Schinke, pela ordem de inscrição.

 

O SR. GERT SCHINKE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero aproveitar o meu período de Comunicação de hoje e me manifestar sobre algumas questões pertinentes à área dos transportes. Estou realmente muito preocupado com o rumo que está tomando essa discussão, na medida em que eu vejo apenas aqui sendo debatida na nossa Casa a questão tarifária dos transportes. Quero aproveitar esse tempo de Comunicações para agregar a esse debate alguns elementos que eu percebo estarem completamente secundarizados, relegados a uma posição sem maior importância aqui, pelos demais colegas Vereadores. A minha preocupação em relação à questão dos transportes leva a uma compreensão de que nós temos que mudar o eixo da discussão trazendo à tona novas questões que me interessam e particularmente eu tenho envolvimento dada a minha militância na área ecológica; diz respeito à questão de desenvolver novas formas tecnológicas, ou seja, novas tecnologias na área dos transportes, por diversas razões. A questão de dependência de uma única tecnologia nos leva em várias situações a um verdadeiro beco sem saída. Isso aconteceu na grande crise do petróleo, em 1972 e 1973, quando os países árabes aumentaram enormemente o preço do óleo cru e desencadearam um mecanismo de encarecimento brutal no que toca ao transporte, em especial ao transporte público que acabou tendo conseqüências tremendas sobre o peso que tinha no bolso da grande massa da população. Nós apontamos três tipos de tecnologia já largamente adotada em outros países, nem sempre países chamados desenvolvidos. Vejam quais sejam: o gás natural nos ônibus, os ônibus elétricos chamados também trolebus e as ciclovias; são três alternativas que diminuem a dependência tecnológica, que barateiam mormente o custo do transporte seja ele coletivo ou individual, no caso específico das ciclovias, e que garante uma diminuição enorme nos níveis de poluição das áreas metropolitanas.

Na verdade, o desenvolvimento dessas novas tecnologias leva de maneira geral – e isso os três têm em comum – a essas duas conseqüências imediatas: Primeiro, a diminuição do custo do transporte coletivo e, segundo a diminuição da poluição ambiental. No que toca ao aspecto dos ônibus movidos a gás natural nós estamos propondo à Administração Popular a constituição de uma Comissão Interinstitucional, formada pela SMAM, a SMT, a Secretaria do Planejamento Municipal e Carris. Já desenvolvemos vários contatos nesse sentido e há uma grande sensibilidade por parte da Administração de se estudar a possibilidade da transformação da frota que, atualmente, única e exclusivamente roda com óleo diesel, paulatinamente passar a rodar com gás natural, coisa, aliás, que já é adotada e recentemente foi manchete nos jornais, na Cidade de São Paulo, pelo Governo do PT Luiza Erundina e que na Cidade do Rio do Janeiro há cerca de três anos esse programa está sendo desenvolvido. Também na Cidade do Recife o projeto está em implantação. No interior de São Paulo, algumas cidades, como Campinas, por exemplo, já adotam essa tecnologia há vários anos. E nós podemos afirmar, com base nas experiências que se têm hoje, que têm dado resultados excelentes, contribuindo para uma melhoria substancial na qualidade de prestação desse serviço à população e, em especial no que toca à diminuição da poluição ambiental, porque a queima do gás natural é uma queima completa, da qual não resultam resíduos que possam comprometer o meio ambiente com poluição. No segundo aspecto, no que toca aos trolebus, nós estamos propondo o reinício de um estudo sério a nível de planejamento global na área dos transporte de Porto Alegre sobre a adoção dessa tecnologia, pelo menos no que toca às linhas troncais. Essa tecnologia poderia ser perfeitamente adaptada nos corredores de ônibus atualmente existentes. Podemos tomar como exemplo a Cidade de São Paulo, onde há uma combinação do uso do trolebus com o ônibus movido a óleo diesel. No que toca às ciclovias, e aí em particular eu tenho uma preocupação especial: nós estamos propondo uma Comissão interdisciplinar da Prefeitura para que re-estude de uma maneira séria e profunda aquele plano cicloviário elaborado na época do Governo Villela e que esteve durante todos esses anos na gaveta. É um plano cicloviário em que nós depositamos a maior importância na medida em que envolveu toda uma equipe de técnicos por parte da Secretaria de Planejamento Municipal que também, na época, combinou esforços da Secretaria do Meio Ambiente e da SMT e elaborou um complexo plano cicloviário que consiste em mais de 30 ciclovias para Porto Alegre. Nós achamos que esse tema tem que sair de uma abordagem folclórica, como é feito por alguns colegas aqui desta Casa e ser encarado do ponto de vista sério, porque nós achamos que esta não é uma questão pequena no que toca à problemática dos transportes.

Nas grandes capitais do mundo, nas grandes cidades modernas, nos países chamados desenvolvidos, nós vemos hoje uma combinação dessa tecnologia das ciclovias com outras formas de transporte. Eu quero apenas lembrar que, na medida em que circula uma bicicleta ou duas, deixa de circular um automóvel na cidade e isso é extremamente benéfico e isso só não interessa às montadoras de automóveis e àqueles que dependem dos grandes mecanismos da indústria automobilística. Mas para a população esse é um esquema tremendamente desejável e saudável.

Nós achamos que a questão mais importante no que toca à questão da ciclovia e das alternativas tecnológicas que estamos propondo para merecer um estudo mais aprofundado e se por parte da Administração significa, por um lado, mais diversidade, que está combinando com menos dependência não só energética como tecnológica e por conseqüência menos dependência política e também menos poluição. Quero aproveitar os poucos minutos que me restam nesta intervenção para lembrar aos ilustres colegas da Sessão Solene que faremos na quinta-feira, às 17 horas, que registra a passagem da explosão das duas bombas atômicas, em Hiroschima e Nagasaki, no dia seis que passou. Hoje quero fazer este registro. A Sessão Solene terá aqui a presença do Cônsul Japonês que viveu no Japão nas cercanias da cidade de Hiroschima, e do físico nuclear Enrico Turrini, que é um parlamentar italiano, atualmente ecologista e um ferrenho militante anti-nuclear na Europa. O Deputado Enrico Turrini é um Deputado eleito pela Itália para o Parlamento Europeu. Estará presente na quinta-feira, às 17 horas. Posteriormente teremos um debate sobre reagentes nucleares. Conto com a presença dos Vereadores desta Casa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Próximo orador inscrito é o Ver. Flávio Koutzii, que cede o seu tempo ao Ver. José Valdir.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, durante as discussões da Constituinte Estadual, o Partido dos Trabalhadores e alguns parlamentares de outros partidos, especialmente do PDT se posicionaram contra a isenção do ICMs às empresa de comunicação social. (Lê.)

A represália por parte dos empresários veio da pior forma possível. Esquecendo suas responsabilidades públicas estes senhores proibiram a veiculação de qualquer notícia que envolvesse parlamentar do PT. O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul denunciou que, em pelo menos em duas empresas jornalísticas (Caldas Júnior e RBS) havia ordem de boicote, inclusive por escrito. Mas nenhuma notícia foi publicada nos jornais, rádios e TVs do Estado. Somente os jornais do Rio e de São Paulo deram alguma divulgação ao fato, como a Folha de São Paulo que, em minúscula nota na página 04, notícia do dia 28 de julho “Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul às empresas jornalísticas do Estado estão proibidas as citações dos Deputados do PT em seus veículos”.

O boicote do PT já era visível nos jornais das últimas semanas, nos quais o depoimento dos Deputados de todos os partidos eram noticiados, enquanto os do PT eram solenemente ignorados. Até o nome do Partido era censurado e, quando absolutamente necessário referi-lo, fazia-se com expressões do tipo “as esquerdas” posicionaram-se dessa ou daquela forma.

No entanto, o mais grave, o mais criminoso atentado ao sagrado direito democrático de acesso à informação ocorreu na sexta-feira passada, dia 08 de agosto de 1989, no programa “Câmara Dois”, quando o comunicador Clóvis Duarte, produtor do programa, foi impedido de colocar no ar uma entrevista com o Dep. José Fortunati pela direção daquela emissora. Não foram suficientes os insistentes pedidos e veementes protestos do produtor para impedir que o proprietário da empresa, primeiro: prolongasse os comerciais por mais de dez minutos, e posteriormente, encerrasse o programa retirando do ar. O mesmo Boletim do sindicato denuncia que o Secretário Municipal do Planejamento, Clovis Ilgenfritz, convidado a participar do Câmera Dois pela produção do programa foi desconvidado pela Direção da TV Guaíba; denuncia também que estão proibidos num órgão da imprensa da nossa Cidade, estão censurados a Bancada Estadual do PT, a Bancada Federal, Vereadores e representantes da Administração Municipal. Este Boletim ainda lembra que esse caso tem precedente, esse caso de censura têm precedentes. Diz assim: “Ao relatar esses casos há quem lembre de outros não tão recentes, mas que ainda envergonham quem trabalha nesses veículos de comunicação”. Em 1987, não podiam ser mencionados os nomes dos Deputados Federais Paulo Renato Paim, do PT e o Senador José Fogaça do PMDB, e o motivo ninguém sabe.

Ora, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, fatos como esse demonstram o quão nefasto à democracia é o monopólio dos meios de comunicação por poderosos grupos econômicos. A inda mais quando tais grupos se instituem como verdadeira casta, passando a sonegar à sociedade um dos mais elementares direitos que é o da informação e a inibir e tolher o trabalho de profissionais competentes e conscientes. Ferem duplamente a democracia, negando à população o direito de ser informada e aos profissionais o direito de informar com liberdade e dignidade.

É sabido, é fato histórico que ninguém desconhece a manipulação da informação feita por grandes grupos que dominam o setor, dizendo o que é notícia e o que não é; o que deve ser divulgado e o que deve ser silenciado, o que deve ser passado como coisa séria e o que deve ser ridicularizado. O exemplo mais recente é o candidato de proveta Collor de Mello. Esses grupos que monopolizam a informação agem sempre no sentido de fortalecer os setores mais reacionários da sociedade.

No entanto, no caso em questão, a censura é claramente em causa própria, em defesa dos seus mesquinhos privilégios, esquecendo os censores que a imprensa é um serviço de utilidade pública. Muito se falou em liberdade de imprensa, muito se refletiu a respeitos dos “negros tempos” do cerceamento à liberdade de expressão durante a Ditadura Militar, quando da entrega do título de “Cidadão de Porto Alegre” ao jornalista Lasier Martins. Ora, liberdade de imprensa não é liberdade para que os “donos” do setor divulguem o que querem, quando e como querem. É antes de tudo direito de ser informado e liberdade de informar. Hoje, corremos um sério risco: sairmos da cesura da Ditadura Militar para cairmos na Ditadura Econômica dos grandes grupos monopolistas que dominam e manipulam os meios de comunicação. Ambas são igualmente cerceadoras e nefastas a qualquer processo de transformação minimamente democrático.

Pela verdadeira liberdade de imprensa, pela dignidade profissional dos jornalistas, pelo acesso democrático aos meios de comunicação de massa, o PT publicamente protesta contra mais essa violência contra os direitos da cidadania.

E, para concluir, Sr. Presidente, leio a matéria do Sindicato dos Jornalistas que diz o seguinte: “Para os jornalistas restará o orgulho profissional ferido, a sensação de inutilidade, de trabalho supérfluo, um desastre sem dúvida. Mas nesse processo sempre haverá uma vítima maior que nós, os profissionais descartados, é o público traído em seu sagrado direito de informar-se ou para ser mais comezinho, comprando “gato por lebre”. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a palavra o Ver. Edi Morelli, que cede o seu tempo ao Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, relatório mostra o que será feito neste semestre. Uma bela foto do nosso Prefeito em Zero Hora de hoje. “Olívio mostra os seus planos. Prefeito começou divulgação do plano semestral da Administração”. No correio do Povo de hoje: Prefeito apresentou seu plano semestral. Há foto, inclusive, no Jornal do Comércio de hoje. Estas são algumas das notícias veiculadas da Administração Popular do PT que aqui está se queixando de que a imprensa não lhe dá cobertura. Talvez pela concorrência que eles vem fazendo com a imprensa, editando mais um jornal até, fazendo com que os eleitores não comprem os jornais da Calda Júnior, RBS ou Jornal do Comércio.

Mas o tema hoje é outro. Leio aqui: “Pouco mais de três meses foram suficientes para a Prefeitura confirmar suas previsões de concorrências irregulares praticadas pelas empresas transportadoras de passageiros. Não havia na SMT nenhuma estrutura adequada ao setor responsável pela complexa definição de valores tarifários, resumia-se a uma única pessoa. A situação atual da frota é um exemplo claro: 453 carros dum total de 1.416 possuem mais de 10 anos e devem ser substituídos imediatamente. Com a Administração Popular esta tendência deve se inverter. De janeiro a abril deste ano a tarifa passou de doze centavos para dezessete centavos, caracterizando um aumento de 451% contra os 100% de inflação oficial”.O que podemos concluir em razão do que está aí acontecendo? O Sr. Prefeito assina este informe direto. Leu desta tribuna que, passados pouco mais de três meses ele sabia tudo de irregular que havia nas empresas. A Secretaria Municipal dos Transportes deixava de ser incompetente e passava a ser competente. A situação da frota, na verdade, não são 453 carros com mais de 10 anos na cidade, são 240 carros com mais de 10 anos. Provavelmente os 240 estejam ainda dentro do plano que permitem 13 anos com vistorias mais freqüentes da SMT. E a inversão no item19, que o Prefeito leu com tanto empenho, nesta tribuna, de 12 para dezessete centavos, fazendo com que a tarifa fosse contida já não é mais real. O que acontece é que, hoje, a tarifa subiu mais do que a inflação. Mas, de qualquer forma, eles tiveram a oportunidade de verificar as dificuldades e de aprimorar a Secretaria Municipal dos Transportes, mas erraram na aritmética, erraram na tarifa, e, agora, esta situação do vale-transporte com uma nota, inclusive com o valor da nota pago, ontem, na imprensa, quatro mil e tantos cruzados, dinheiro do povo, onde dizia ser constatada a fraude. A fraude se constatou nas fichas com o indiciamento do Secretário do Município, o que é grave. É chegada a hora, no entendimento deste Vereador, sem que se esteja fazendo uma crítica. Até dando um conselho, se entenderem assim, dizendo que a experiência de trinta e quatro anos trabalhando na Prefeitura, vinte e nove anos e quatro meses muito vinculados ao transporte coletivo urbano, porque no dia 1º de setembro de 1956 eu era levado à função de Diretor de Planejamento e Fiscalização na Secretaria Transportes, mas eu já vinha fazendo estatísticas na Secretaria de Transportes nesta Cidade. Vamos economizar o dinheiro da Prefeitura, vamos realizar obras que estão sendo solicitadas, até com aqueles quatro mil e poucos cruzados que custou num dois jornais da Cidade, já que está colocando o preço da matéria, talvez desse para pagar os 25% que são devidos aos servidores municipais. Um pedacinho, mas também era um pedacinho. E o grande se faz de um somatório de pedacinhos. Diz aqui o Prefeito que constatou todas as irregularidades, que não soubermos somar, mas não faz mal nenhum, não eram 453, eram 240, mas não faz diferença, também, e que diz que a Secretaria não tinha; se não tinha, já tem agora. E a tarifa que disparou mais do que a inflação está dizendo que os empresários, provavelmente, administrassem melhor e sem ônus para o erário Municipal. Nós estamos pagando muito caro. Até este atrito da venda de vale-transporte, e que eu havia dito aqui no dia 1º, e foi mostrado que foi vendido pela tarifa de quarenta e cinco centavos, que seria implantada no dia 06 de agosto, até este atrito, que é prejudicial à população mostra que há um desejo da Administração Municipal em dizer por que veio, mas não veio bem. Eu não creio que tivesse o desejo de prejudicar a população, mas é um desejo de manter uma idéia que eles tinham de que tem que intervir.

Mas a grande verdade, por tudo que aqui está dito, é que é melhor deixar os transportes operarem o sistema e fiscalizar com o rigor que devem ser fiscalizados Quando eu disse que nós havíamos feito uma intervenção, Câmara e Executivo, em 1984, por quatro dias, a administração, através de um programa de televisão, pelo Vice-Prefeito, respondeu que, se eu tivesse feito como deveria ter sido feito, a situação seria outra. Hoje, passados seis meses de intervenção da Administração Municipal eu fico satisfeito com os quatro dias, e fico sabendo, mais uma vez, que eu estava certo e a Câmara também estava certa. Passados quatros dias, nos reunimos e chegamos à conclusão de que tínhamos as informações necessárias e que poderíamos tomar as medidas que realmente tomamos. Quero também dizer que, nos últimos dez anos, houve uma renovação média de 126 ônibus e, até na minha administração, 1983, 1984, é que se renovou menos, pelas dificuldades havidas quando a inflação passou de menos de 100 para mais de 200. E a tarifa foi mantida abaixo da inflação. E, agora, nós estamos vendo que, realmente, operação de sistema de transporte coletivo não se faz por Decreto, principalmente Decreto de intervenção.

Então vai um conselho, um apelo, o que quiserem, de alguém que viveu o transporte coletivo desta Cidade, como responsável por ele em diferentes posições e que tem absoluta certeza de que a encampação não é remédio, que a intervenção está por demais prolongada, criando embaraço para a própria Administração. Respeito o Prefeito, respeito o Vice-Prefeito, respeito o Sr. Secretário dos Transportes, mas eles não têm condições de operar o sistema de transporte coletivo urbano, já que a sua meta, que era não aumentar a tarifa, não foi conseguida, porque está acima do aumento da inflação. Melhorou o sistema de transporte? Não melhorou. O povo responde por mim e por qualquer um de nós que o sistema de transporte coletivo está muito pior do que no início deste ano; renovar a frota? Não houve renovação, os 453 ônibus, que eles dizem que são 453, mas que são 240, não serão renovados, nem 24 deles, nem 10%, muito menos 10% de 453, um aparte ao Ver. Omar Ferri.

 

O Sr. Omar Ferri: Nobre Vereador, estou acompanhando com muita atenção, mas acho que todas as vezes que nos manifestamos, ou nos referimos ao transporte coletivo desta Cidade, até admito que ele está pior do que antes, até admito que este é o “calcanhar de Aquiles” da Prefeitura, até admito que é o ponto nevrálgico desta Administração, mas sabe Ver. Dib, acho que os caminhoneiros preparam uma cilada à Administração Popular no momento em que notificaram a Administração de que fariam um locaute no dia 16 de fevereiro deste ano, e aí nasceram todas estas mazelas.

 

O SR. JOÃO DIB: Não tenho dúvidas, nobre Vereador, de que foi uma precipitação, de que foi um erro aquele documento dos transportadores, mas a administração poderia ter feito a intervenção, e esta Casa, por unanimidade, aplaudiu, e ninguém foi contrário à intervenção, apenas quanto à forma e ao tempo; acho que se tivesse sido feito rapidamente, por uma semana, 10 dias, 15 dias, teria todas as informações, como diz o Prefeito aqui, e teria colocado uma fiscalização rigorosa, fazendo valer o seu poder de polícia, e fazendo com que tivéssemos um sistema de transportes bem melhor em Porto Alegre, com a tarifa adequada que está aí, nenhuma restrição aos cálculos da tarifa da Prefeitura. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Ver. Omar Ferri, que cede o seu tempo ao Ver. Décio Schauren.

 

O SR. DÉCIO SCHAUREN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, primeiro, gostaria de iniciar com a questão colocada pelo Ver. Dib, quanto à nota que a Administração Popular divulgou na data de ontem, na Zero Hora, de esclarecimento sobre a venda do vale-transporte, onde costa, inclusive o custo desta publicação. E eu entendo que isto faz parte da transparência. Ver. João Dib, eu não me lembro se na época em que o Senhor era Prefeito se as suas publicações continham o custo da publicação para a população saber claramente o quanto está sendo gasto.

 

O Sr. João Dib: Eu vou responder, já que V. Exª me fez uma pergunta. No meu tempo as publicações eram por editais. Apenas editais para a concorrência ou aviso à população e, realmente, não constava porque os jornais informavam os custos, sem dúvida nenhuma. Eu realmente não colocava os custos, mas eram só editais, isso eu posso dizer com toda a tranqüilidade.

 

O SR. DÉCIO SCHAUREN: Acredito que inclusive na sua época a imprensa era muito mais democrática em relação à população do que a Prefeitura estava fazendo e nós somos obrigados a divulgar uma nota, porque constantemente as informações saíam distorcidas em relação à questão do vale-transporte e inclusive não estava claro para a população que, efetivamente, isto que a ATP estava fazendo signifique uma fraude para os sistemas, porque foram vendidos 6 milhões de fichas, antecipadamente, com tarifa velha e, isto sim, prejudica o sistema do transporte coletivo; e isto sim a população precisa ter mais ônibus dentro deste sistema e, desta forma, isso não é permitido. E, além disso, também diz a nota, muito claramente, que esta venda antecipadamente de fato prejudica o fisco, porque vende muito mais do que as empresas poderiam descontar regularmente. Eu quero também dizer, com relação a esta questão da transparência, esta semana foi feita crítica, foi feita uma denúncia de que estava havendo eleições no DMAE, quer dizer, me parece uma inversão total de valores. O que é um mérito da Direção do DMAE e da Administração Popular se coloca em forma de denúncia. Agora, o que eu soube, concretamente, é que a grande maioria dos funcionários lá no DMAE quer estas eleições. Agora, tem um pequeno grupo de pessoas que sempre estiveram por cima que sabem que pela via eleitoral não terão chance de continuar em direções, estes sim estão criando problemas, estão dizendo que isto é antidemocrático, porque na verdade estão perdendo espaços. Então, o que na verdade é um mérito, quer-se fazer passar como se isso fosse uma denúncia, como se fosse uma irregularidade, agora eu tenho certeza de que a grande maioria dos funcionários, pelo que eu constatei, quer esta eleição, quer a democracia dentro do DMAE.

Voltando sobre a questão do transporte, foi colocado, quando os empresários estiveram aqui na Comissão Externa sobre o transporte coletivo, quando se discutiu as irregularidades da SOPAL e da TREVO alguns Vereadores colocaram que isto na verdade não configurava nenhuma fraude, o que a SOPAL fez, no caso, de criar uma nova empresa e de passar para esta empresa 48% dos eu capital, de passar os terrenos para esta empresa, de passar as garagens para esta empresa e esta empresa por sua vez cobrava da empresa de transporte coletivo aluguéis pelas garagens que eram dela, pelos terrenos que eram dela. Então, me parece que há uma distorção completa de valores. Isto eu considero uma distorção e tem certos Vereadores que se irritam quando dizem que eles estão do lado dos empresários do transporte coletivo, ao lado da ATP, mas pelas manifestações acho que não precisa nem dizer isto, isto está claro: quem está do lado do usuário e quem está ao lado dos empresários e do lado da ATP com todas as suas irregularidades que ela vem fazendo e nós vamos disputar o direito da Administração Popular de vender as fichas do vale-transportes das permissionárias aqui em Porto Alegre. Sou grato.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Para uma Comunicação de Liderança, com a palavra o Ver. Vieira da Cunha, pela Bancada do PDT.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr Presidente e Srs. Vereadores, depois de quase 30 anos de jejum forçado, o povo brasileiro está apenas a 100 dias de uma data histórica para todos nós, 15 de novembro de 1989, quando teremos realmente o direito legítimo de eleger o Presidente da República do nosso País. Serão mais de 80 milhões de eleitores, sendo que a grande maioria como eu votará pela primeira vez ao redor de 50 milhões de eleitores que pela primeira vez darão os seus voto para Presidente da República. A faixa etária dos 16 aos 46 anos, muitos pais e filhos, mães e filhas irão juntas pela primeira vez às urnas para votar em Presidente da República. A importância histórica dessa data, portanto, é indiscutível, e essa mesma importância por si só que justificaria a abertura de espaços democráticos para essa campanha eleitoral desde é claro que sejam garantidas condições de igualdade entre os candidatos e que principalmente seja coibido o abuso de poder econômico, é uma tradição de liberação de propaganda eleitoral nos táxis, nós durante a nossa Administração do PDT em Porto Alegre, tivemos duas campanhas eleitorais, em 1986, para Governador do Estado, e esta última Municipal em 1988 para Prefeito e Vereador. Nas duas ocasiões, foi permitida a colocação de adesivos nos táxis de Porto Alegre. Eu levantei esse assunto, mesmo que rapidamente, num aparte e mereci a atenção do Líder do PT, Ver. Flávio Koutzzi, que me respondia dizendo que tinha uma posição também favorável à liberação desse tipo de propaganda e me ajudava reforçando os argumentos dizendo que não se justifica que nesse momento da vida nacional se tivessem proibições desse tipo, próprias do regime da ditadura, foram palavras inclusive não minhas, mas do Líder do PT que vinham em conseqüência àquela minha preocupação. Eu fui surpreendido hoje com uma notícia da imprensa que o Sr. Secretário dos Transportes, nosso colega Ver. Antonio Hohlfeldt, proibindo o que o jornal chamava de películas refletivas ou não, nos táxis de Porto Alegre. Eu porque tenho pautado minha conduta nesta Casa por uma extrema seriedade e não me utilizo desta tribuna para falar sobre o que eu não tenha previamente estudado, procurei obter esta Portaria, já que notícia dela só havia tido pelo jornal de hoje. Não consegui obter uma cópia deste instrumento; apenas obtive um “release” da imprensa da Prefeitura – papel timbrado da Prefeitura, confirmando esta notícia de jornal e dizendo que o Ver. Antonio Hohlfeldt havia assinado Portaria que proíbe colocação de quaisquer películas refletivas ou não nos vidros dos veículos licenciados para transporte de aluguel (táxis). E segue a nota dizendo que também são proibidos tintas e adesivos que passem a interferir na transparência dos vidros. A partir de agora, nas próximas vistorias de táxis na SMT, os carros com essas películas devem estar adequados à Portaria. E eu fiquei em dúvida, Ver. Flávio Koutzii, se esta Portaria teria alguma relação com o assunto que nós discutimos nesta Casa. E digo por quê. Porque a justificativa da Portaria é a de que primeiro: que a substituição indiscriminada de componentes do veículo dificulta o estabelecimento de parâmetros para fiscalização, inclusive não se enquadra no caso de adesivo de propaganda de candidato; e a segunda justificativa quero crer que também não se enquadre, que é a seguinte: a película favoreceria o escurecimento do interior do veículo e facilitaria o uso do veículo para fins criminosos, e dificulta à autoridade policial ou órgão de segurança pública na proteção do usuário e do motorista. Parece-me que os próprios fundamento da Portaria não levaria a crer que este instrumento fosse utilizado pelos fiscais da SMT para retirar dos táxis os pequenos decalcos, adesivos de propaganda eleitoral.

De qualquer forma, eu volto a solicitar à Liderança do PT nesta Casa, que já se solidarizou com esta mesma posição, que faça contato com o Sr. Secretário dos Transportes a fim de que ele dirima, de uma vez por todas, essa dúvida, e que, como democrata que é, autorize, permita formalmente que os taxistas portem, nos seus veículos, a propaganda eleitoral. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Para Comunicação de Liderança, com a palavra o Ver. Omar Ferri, pela Bancada do PSB.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu não sei como chamaria o meu dileto e prezado amigo Flávio Koutzii, se é meu amigo, meu irmão, porque há uma comunhão ideológica incrível e uma profunda admiração que sinto por ele, além de um profundo respeito. É que sentimos uma dor na alma e no coração quando temos que vir de público divergir, quanto mais uma divergência que é um reflexo de uma conduta retilínea e coerente, porque não poderíamos votar de uma forma, hoje, que viesse a impedir uma mesma posição de liberdade e de altivez amanhã quando se apresentaria o mesmo problema, porém, invertido.

Por isso, Sr. Presidente e Srs.Vereadores, eu tenho uma profunda dúvida de ordem de sensibilidade nacional, ideológica, política e, principalmente, filosófica. Eu não sei, Sr. Presidente quem é mais sectário no caso, se quem escreveu um livro nazi-fascista cheio de inverdades e incorreções, ou se uma casa que viesse a condená-lo por ter escrito bobagens. Sinceramente eu não sei quem é mais sectário, como foi sectário, burro, incompetente e incapaz e que prestou um desserviço à humanidade, um califa chamado Omar, que determinou que a Biblioteca de Alexandria fosse incendiada. E mesmo lembrança de muitas situações do mundo inteiro. Eu lembro que um simples pensamento, Sr. Presidente, já significa uma representação deletéria de um sentimento religioso e, lembro, que por um simples pensar na Idade Média a Igreja condenava à fogueira, eu não digo milhares eu não digo também milhões e milhões de pessoas condenadas injustamente pelos autos de fé facciosos, porque sequer davam ao cidadão o direito de defesa. E me parece que uma moção como a que foi apresentada hoje pelo meu irmão dileto Flávio Koutzii traz para esta Casa as nuvens negras da época do obscurantismo medievalista. Lembro de Hitler, um homem que disse que edificaria na Europa um regime de mil anos, o regime dele durou apenas seis anos, mas eu lembro que seus sectários queimavam em praça pública toda a espécie de livros, como a Igreja queimava os livros dos sábios que diziam que a terra girava em redor do sol. A verdade que existe no mundo não é a nossa verdade, a verdade universal é a verdade de todos e a democracia não pode prescindir da verdade de todos. Condene-se o nazifacismo, condenem-se as mentalidades retrógradas, atávicas, brutais, medievais, obscurantistas, mas censurar o direito a quem constitucionalmente tem o direito de editar o livro que quiser e inserir dentro desse livro às besteiras que quiser isso não podemos. Como se nós, Sr. Presidente, não estivéssemos cansados de ouvir besteiras publicadas neste País pelas rádios e pelas televisões.

Vou terminar, Sr. Presidente, como poderíamos condenar os iatolás do regime islâmico? Se temos razão de condenar o iatolá, perderemos razão de condenar o Castan; se condenarmos o Castan somos obrigado a absorver o fundamentalismo muçulmano. A dignidade de cada um de nós não admite tática, nem maneiras, nem fórmulas; a dignidade está acima de tudo isso porque convive com o princípio sagrado chamado “Justiça” e por um princípio de coerência não condenarei os erros de quem esculpi suas brutais e insólitas idéias em seus livros mentirosos, porque amanhã eu quero ter este mesmo direito, quando o problema invertido aparecer para julgamento dos nobres Pares. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a palavra, o Ver. Flávio Koutzii.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, amigo, companheiro e irmão Ferri: Não será só uma divergência de apreciação de uma questão que, menos que uma iniciativa circunstancial desse Vereador, reflete na verdade repetição de outros gritos de protestos, de outras erupções da indignação, de outras homenagens à memória, que vamos nos separar naquilo que evidentemente nos une. E, na verdade, acho inclusive oportuna a intervenção porque ele coloca uma questão de fundo absolutamente pertinente sobre os valores democráticos e, portanto, não é redundância nem perda de tempo e o faria no momento em que isto vier em votação, creio que será sexta-feira. Não propomos a eliminação de livros, nós propomos, claramente, uma questão política que vai desafiar o nosso entendimento de dizer e de produzir um pequeno fato político na escala desta Câmara e desta Cidade, de dizer: estamos achando muito ruim que esta literatura ganhe cada vez mais espaço. Ou não achamos nada. Ou calamos por este ou por aquele entendimento. Acho que faltou uma peça no desenvolvimento do companheiro Omar Ferri, que é a noção de crime contra a humanidade, que não foi o Ver. Flávio Koutzii que inventou, que é uma aquisição que a humanidade conquistou.

Até quando o imperialismo norte-americano tentou a guerra bacteriológica na Coréia, em 1951, e a fez; quando o imperialismo norte-americano jogou napalm no Vietnã, e o fez, foi possível erguer a opinião democrática mundial, independente se a favor do Vietnã, ou não, em nome da idéia humana de que mesmo na guerra há limites.

Falo dos limites, companheiro Omar Ferri.

Então, a noção de crime da humanidade é aquele em que, não no fragor de uma guerra, mas se persegue alguém porque é negro, como se fez legalmente nos Estados Unidos, até poucas décadas atrás, muito poucas décadas; como se fez com os judeus, reiteradamente; como se fez na Idade Média, na Inquisição, no Egito e no Progrons do início do século; como se fez com tantas outras minorias raciais; como se fez com os índios, exterminados no Brasil, e em toda a Cordilheira dos Andes. É um tema da humanidade. E sei que o Ver. Omar Ferri até por uma questão de bom-gosto e de sensibilidade não leu o livro, porque este livro é indigestíssimo. É um fantástico amontoado de besteiras, de imprecisões absolutas no terreno histórico, não tem nenhum critério científico em termos de pesquisas. É uma estória de comadre transformada em versão de história. E não é só o problema se mataram seis milhos de judeus, e essa fantástica mentira de que não havia câmara de gás. A história é a seguinte: é que toda a história contemporânea, todos os desastres de todos os povos têm uma explicação, central e principal: há uma grande conspiração judaica que articulou tudo isso e produziu todos esses males. Com esse papo mataram seis milhões de judeus na Segunda Guerra.

É por isso que um democrata, que como o companheiro Omar Ferri ou tantos outros que estão aqui hoje, defendendo sistematicamente a liberdade de expressão, o valor da cultura, o valor de cada livro que reflete pensamento, elaboração e acumulação da riqueza humana, sabe distinguir. Queimar livros, nunca, de ninguém, mas criticá-los publicamente através de instrumento que temos na mão é o que estamos fazendo neste caso extremo onde a memória volta, as pessoas assassinadas voltam a ser assassinadas nesta reversão inadmissível do que realmente aconteceu nessa tão recente história contemporânea.

Por tudo isso, eu vou sustentar essa Moção sexta-feira e espero ter o apoio da maioria da Casa. Muito obrigado.


(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a palavra, o Ver. Luiz Braz, em tempo de Liderança.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, foi tremendamente feliz o Ver. Omar Ferri, quando veio a esta tribuna, e, utilizando o argumento da história solicitou ao Líder do PT, Ver. Flávio Koutzii a não apresentação dessa Moção contrária a Elwanger Castan, escritor de livros chamados anti-semíticos.

Eu só quero fazer uma colocação, seqüência de argumentos colocados através desta tribuna em uma outra tarde de que existem alguns livros publicados por esta Editora do Sr. Elwanger Castan que merece a nossa atenção, talvez não pelo conteúdo Ver. Omar Ferri, verdadeiro ou mentiroso ou ficcionista, mas por aquilo que representou àquelas pessoas no passado, mesmos que estas pessoas não professassem a mesma ideologia minha ou do Ver. Dib ou de V. Exª ou de qualquer Vereador desta Casa, eu digo, por exemplo, que um dos autores publicados pela Editora do Sr. Elwanger, muito embora não seja a mesma ideologia minha ou de V. Exª, mas nós não podemos ignorar que foi o Presidente da Academia Brasileira de Letras, que foi Presidente do Museu Histórico Brasileiro, integralista Gustavo Barroso, é um dos nomes publicado pela Editora do Sr. Elwanger Castan. Entre as publicações, tem uma que, pelo menos para mim, não é uma publicação contra judeus, é uma publicação que até nos abre os olhos para as negociatas que os nossos homens que cuidam da dívida externa brasileira fazem, que é o “Brasil Colônia de Banqueiros”, que até recomendaria não apenas a V. Exª, mas que todos os Vereadores desta Casa deveriam passar os olhos por este livro. Traz história de grandes negociatas que aqueles homens responsáveis pelo endividamento externo brasileiro faziam com banqueiros internacionais.

O Gustavo Barroso é filho de alemães, têm parentes brasileiros e tem, realmente, o Ver. Koutzii, e aí não nego a V. Exª têm realmente uma tendência a denunciar ódio de judeus, a gente nota nas publicações de Gustavo Barroso, a gente nota no escrever do Gustavo Barroso que realmente existe isso, agora existe outro lado que tem que ser apreendido, existe o outro lado que tem que ser valorizado e existe, também, aí uma qualidade que não pode ser esquecida. É um homem bastante culto. Foi um homem que foi Presidente da Academia Brasileira de Letras e Presidente do Museu Histórico Brasileiro. Existe um outro livro. Este tem mais de 40 anos. Gustavo Barroso escreveu antes da metade do século este livro: “Brasil colônia de Banqueiros”, que foi editado pela Editora Civilização sem cortes e agora na Editora de Elwanger, foi editado com todos os cortes e censura. Pega a Edição da Civilização esta agora e vamos ver que nesta tem todos os cortes de censura. Tem outro livro – estou citando os livros que muito embora possamos não gostar deles, não podemos desprezá-los porque é escrito por Henry Ford, escrito antes da Segunda Guerra Mundial. Quem foi ele? Alguém que não merece ter sua vida pesquisada. Foi um cidadão qualquer que não teve sucesso em sua vida? Não, não foi. Nós todos conhecemos um pouco pelo menos da sua história.

Então, podemos não estar de acordo com aquilo que ele escreve, por exemplo, no seu Judeu Internacional, não podemos ignorar que ele tem um nome a ser respeitado. “O Engenheiro Leister”, que escreveu agora. E se o “Gás Acabou” também é um engenheiro responsável pela construção de presídios e câmaras de gás nos Estados Unidos, nos tempos modernos e foi chamado para ser testemunha no caso Zonder, que é um dos acusados da Segunda Guerra Mundial. Escreve com os conhecimentos técnicos que tem e dá lá sua opinião. Acho o seguinte e estava comentando com o Ver. Koutzii que o que eu gostaria de ler é alguém que se pudesse contrapor a esses dados que são apresentados. Sou um curioso. Agora, em momento algum sou favorável a qualquer manifestação racista. Agora, não vejo nesses livros apenas manifestações racistas. Tem manifestações, agora, existe o lado positivo destas publicações e esse lado positivo tem que ser valorizado. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a apalavra, o Ver. Airto Ferronato.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, neste intervalo de Liderança, eu gostaria, inicialmente, de falar a respeito da iniciativa da Associação dos Moradores do 4º Distrito, que pedem um estudo relativo a implementação de uma elevada na Av. Farrapos esquina com a Av. Sertório e nos congratulamos com este pedido. Além disso, dizer que a Zona Norte carece de praça ou parques para lazer. Nós, lá, não temos e devemos juntamente com todos os Partidos desta Casa e com o Governo da Frente Popular lutar para que se consiga este pleito.

Além disso, nós vemos, hoje, no jornal Correio do Povo, folha 03, que a METROPLAN pretende concluir, em 40 dias, estudos para diminuir o tráfego de ônibus no corredor da Av. Assis Brasil. Diz que aquela Avenida está saturada, que a situação é crítica e tem como idéia usar outras vias como a BR 290 e as Avenidas Sertório e Protásio Alves para ônibus que liga Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha e Alvorada. É oportuno este estudo e nós acreditamos também que a Av. Assis Brasil já não comporta mais o número de veículos que ali transitam. E diríamos o seguinte: direção Centro-Bairro, até antes do Viaduto Ubirici é necessário e existe a possibilidade de se construir uma nova Avenida paralela a Av. Assis Brasil, à direita, ou seja, passando nas imediações do Hospital Conceição.

Nós estamos apresentando um Projeto de Lei e vamos voltar a falar sobre este tema no período de Comunicações, quando a mim for reservado um espaço, que trata sobre guarda comunitário. Nós entendemos que a insegurança é fator fundamental em Porto Alegre. E entendemos mais: que com este Projeto nós pretendemos não criar este tipo de guarda, porque este tipo já existe, mas incentivar este tipo de atividade. Já se está ouvindo dizer que é inconstitucional essa iniciativa e eu gostaria de dizer o seguinte: o que nós estamos fazendo é incentivando a população de Porto Alegre para que institua, ou para que fomente, que desenvolva essa atividade, e não existe, em nenhum artigo da Constituição, vedação para isso. Ou seja, isso já existe, a segurança privada já está aí. O que nós vamos propor é um incentivo para incremento dessa segurança privada no Município de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 16h30min.)

 

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